Juazeiro e Petrolina possuem trechos com clima semelhante de um deserto, destaca Jornal Nacional

O Instituto de Pesquisas Espaciais e o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais identificaram uma área do território brasileiro em que as condições do clima são semelhantes as de um deserto – um deserto no Brasil – e essa novidade, que tem relação com o aquecimento do planeta, tem a tendência de triplicar de tamanho nos próximos anos.

A paisagem seca, quase sem verde, em parte da região do Nordeste é uma das características do semiárido brasileiro, mas esse solo castigado pela falta de chuvas está passando por uma mudança que os cientistas e moradores perceberam.

Pela primeira vez, pesquisadores identificaram uma área no país tão seca que tem o clima parecido com o de um deserto.

Os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais observaram dados desde 1960. Eles compararam o volume de chuvas nesse período com a quantidade de água que evapora para a atmosfera e concluíram que as mudanças climáticas estão deixando a maior parte do país mais quente e seca.

O estudo apontou que a região considerada semiárida no Brasil teve um aumento de 226 mil km² de 1960 a 2020. E, entre 1990 e 2020, houve o surgimento de uma área de 5.763 km², equivalente ao Distrito Federal, que já pode ser considerada árida. Ela abrange cinco municípios da Bahia, Abaré, Chorrochó, Macururé, e trechos de Curaçá, Juazeiro e Rodelas e mais um pedaço do município de Petrolina, em Pernambuco.

“Se atribui isso muito a mudança climática global. Ou seja, o aumento da temperatura faz com que a atmosfera esteja mais apta para receber água e, com isso, o índice de aridez vai refletir, precisamente, nessa maior demanda atmosférica”, explica Javier Tomasella, pesquisador do Inpe.

O clima árido pode ser uma consequência da falta constante de chuvas ou do aumento da temperatura ou uma combinação dos dois. Com isso, o solo da região fica seco por mais tempo. Para estudar a situação, os cientistas usaram os índices previstos na convenção das Nações Unidas para o combate à desertificação e avaliam que a região árida no Brasil pode triplicar de tamanho na próxima década.

“Essa área hoje identificada, de 5 mil km², passe para 15 mil km², mostrando então um processo acelerado da aridização, ou seja, uma mudança de clima no Brasil, né? Especialmente na região semiárida”, alerta Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden.

Uma situação que pode trazer problemas econômicos e sociais.

“Causa impactos em setores produtivos do Brasil, entre eles o setor de produção agrícola – seja ele de grande porte, ou de pequeno porte e de subsistência como aquele na região semiárida -, afetando sobretudo a população mais vulnerável da região semiárida”, acrescenta Ana Paula.

O Ministério do Meio Ambiente declarou que vai lançar, ainda este ano, um plano de combate à desertificação e que vai envolver o setor público e a iniciativa privada em ações para recuperar e proteger o semiárido e revitalizar as bacias dos rios.

Jornal Nacional/TV Globo/RedeGN/Foto Reprodução